Quem dera

Quanto tempo sem abrir a minha janela e sem espreitar através dela, esse mundo onde me encontro e me perco tantas vezes em aventuras fantásticas que invento dentro do meu imaginário, qual refúgio onde me escondo da cruel realidade, decadente e tenebrosa que o mundo atravessa.


Fujo da inalação do fedor putrefacto da maldade e da voz horrenda da mentira que domina a humanidade, fazendo os valores perecem no coração do homem. Nesse lugar que eu sonho, invento e reinvento, metamorfoseando-me em cada palavra em paisagens de esperança através dessa janela onde tudo é paz e amor.


Com muitas primaveras e muitos Outonos quentes, com águas a correr pelas encostas da minha fantasia, aves a cantarem melodias que invento na pauta da minha imaginação e escrevo entre as cores febris do meu arco-íris, nessa tela que imaginária onde palpita alegremente o meu coração.

Quem dera que na realidade não predominasse o cinzento, nem a mentira tivesse o poder de conduzir o mundo às trevas onde a maldade tem a cor da morte.


Quem dera…

Tudo tão igual a outros tempos

Passaram muitos anos mas parece que foi ontem. Eu comecei a trabalhar logo que acabei a escola primária, percorri a pé durante muito tempo o percurso de quase vinte quilómetros, entre ida e volta a casa até conseguir comprar uma bicicleta, meu primeiro transporte. Meus pais, não tinham condições para me por a estudar, mas eu tinha o sonho de ser veterinária, pois sempre me apaixonou os animais de quatro patos, pela sua inteligência e ausência de maldade que muito abunda na humanidade, mas como era necessário ajudar a casa naqueles tempos de necessidades, só pude ingressar na escola nocturna depois de atingir a idade permitida na época, mas tirei um curso como estudante trabalhadora, como muitos jovens da minha época o fizeram, sem pedir ou dever nada ao estado português. Mas o 25 de Abril aconteceu, e com ele nasceu o alento, a esperança e os sonhos, perspectivou-se uma vida melhor, mais justa e humana, para o futuro, haveria democrática e menos distância entre o povo e as riquezas de alguns e que todos contribuiriam para economia da nossa querida nação livre da ditadura e da PIDE. Atingiríamos a reforma e iríamos passear e visitar outros países como aqueles turistas que meus pais tanto admiravam mas nunca tiveram condições para imitar, mas eu chegaria lá, pensavam eles, com essa democracia cheia de justiça e dignidade. Mas o tempo passou, mas a democracia não, transformou-se numa palavra que todos passaram a usar como plataforma da mentira e através dela, continuarem a escravizar o povo retirando-lhes as regalias e direitos adquiridos e levando-o até ao suicídio. As famílias, muitas regressaram ao passado principalmente os mais velhos e os da minha geração ou pior ainda, a luz do velho candeeiro a petróleo ou da vela voltaram aos mesmos lugares e compram as aparas de carne para o cão mas transforma-se em refeições para a família e isso faz-me lembrar os tempos dos meus pais em que o frango só vinha para a mesa em ocasiões muito especiais. Temos tudo a distância dum clique com as novas tecnologias, muita informação para pesquisar, mas a cadeia invisível que nos acorrenta ao sistema muito mais perigoso que a PID dos outros tempos. Temos tudo tão próximos pelas imensas redes sociais, que nos ligam ao mundo global, mas tudo tão igual como convêm, para que continuemos escravos, não dum regime fascista, mas duma farsa a que chamam democracia, onde a justiça é uma mentira que só beneficia o crime seja ele qual for desde que tenha luvas brancas e poder. Os desfalques na banca, BPN, as derrapagens, branqueamentos de dinheiro, falcatruas e mais falcatruas, e muitos os negócios sujos que levaram os país a falência, mais as fortunas que se gastam para ilibar esses criminosos, arrastando o tempo até que prescrevam os crimes e transformar-nos a nós povo culpado pelo estado da nação. A justiça sabe onde se esconde o dinheiro, conhece os ladrões e o que faz? Por acaso o foi resgatar ou obrigou a devolverem-no? Tudo isso gera negócio, vende jornais e entre muitas coisas que nós ouvimos, mais perece gozarem com o povo, pela submissão a que nos obrigam. Eu penso que as diferenças e as dificuldades de hoje são maiores porque naquele tempo valia-nos a ignorância que nos poupava ao sofrimento de ver e ser obrigada a calar. Hoje eu e muita gente com minha idade apavora-se ao pensar na reforma com medo dos cortes e de não poder cumprir dignamente com obrigações, porque o estado nos obriga a pagar dividas que não fizemos , quando de acordo com os ordenado que recebemos, nós pagamos  a nossa contribuição sem nos perguntarem se podia-mos faze-lo naquele ou no outro mes. Desengane-se aqueles que algum dia acreditou que vivia em democracia ou em liberdade.

Saudade

Hoje visitei o lugar da minha janela onde há muito tempo não me via debruçada a espreitar a paisagem das minhas vivencias que fizeram historia da minha vida. Olhei com nostalgia atreves das vidraças do tempo que passou e pareceu-me que me vi ontem, a entrar no avião para voar até a Guiné-Bissau, para cumprir seis meses de voluntariado, na Maternidade do Centro Medico da Casa Emanuel e no entanto já regressei a mais de um mês a Portugal.
O cansaço ainda me faz doer o corpo, mas o coração soma todos os dias saudades das amizades e de todo um conjunto de situações emoções que experimentei dentro do campo missionário onde trabalhei, por isso deixo-me passear por entre essas vivencias debruçada no mural
dessa janela que invento e matar a saudade desse lugar longínquo onde a vida feita de nadas, me ensinaram e enriqueceram tanto
O coração dentro do meu peito acelera e uma lágrima desliza na minha face.
Lembro-me das pessoas com quem trabalhei ensinei e convivi, pessoas diferentes de lugares ainda mais distantes, e de outras nacionalidades, pessoas que me ensinaram a olhar para a vida de uma outra perspectiva e descobrir novos horizontes para sonhar.

Saudades



Aventura pela noite solitária


(Foto da Rua que vai da Praça do império ao Porto na Guiné Bissauantes da independencia )
















Esperei, mas o sono não veio ao meu encontro, deixou-me sozinha no meio da noite vagueando por entre as sombras da escuridão, nas ruas da minha saudade e onde encontrei a solidão, com o seu jeito espampanante e sonhador, envolvendo-me no seu abraço até ao acordar do dia.
Debruçadas no umbral do tempo espreitamos para lá do sonho onde começa o imaginário e voamos nessa aventura fantástica do faz de conta que tudo é lindo, que as ruas de Bissau não tem lixeiras amontoadas em toda a sua distancia e que os jardins tem flores em vez de plásticos, a cidade é um jardim com rede sanitária e que a luz ilumina todos nos seus lares.
Caminhamos juntas por essas avenidas que inventamos nessa cidade organizada com leis que  favorecem toda a gente e que vivem felizes e comendo mais que uma vez ao dia ,sem crianças descalças pelas ruas, vendendo bananas ou, amendoim, ( mankara) como lhe chamam aqui, para levarem uns quantos francos cefás, que é a moeda da Guiné Bissau. 
Conscientes, da  nossa, fantasia, nesse lugar encantado de faz de conta, regressamos ao mundo real  e aconcheguei-me ainda mais a solidão e juntas assistirmos ao nascer de mias um dia, que ao chegar , sem qualquer preocupação ,estendeu os braços para a vida que o abraçou e festejou com alegria denunciando a sua chagada.
E o meu dia também começou depois dessa noite acordada. 

AMIGA É MAIS QUE IRMÃ


Amanheceu e eu acordada, assisti ao despertar da passarada e das crianças do orfanato, que eufóricos e barulhentos se dirigiam para o refeitório, para depois irem para a escola, enquanto as portas dos quartos, aqui no lar se abriam e fechavam,  fazendo aquele barulho característico, dos portões dos quintais em Portugal e com quela anciedade que  apertra  o peito quando se sente uma saudade.
Atravessei a noite com a companhia dos motores de geradores espalhados por todo a bairro de Afia e também o chilrear de pássaros nocturnos que mais pereciam gente a gritar, quando esvoaçam por cima da minha janela e mais distante o latir de cães inquietos até de madrugada.
Meu pensamento foi por entre toda essa algazarra de sons e silêncios trazidos no ar quente que me entra pela janela, que a ventoinha ligada no máximo não consegue arrefecer. Pensei em tanta gente de quem sinto saudades, mas pensei em ti especialmente.
Percorri todos os recantos das minhas lembranças à procura do momento em que te conheci, mas esse espaço de tempo em que apareces na história da minha vida, esta retido nessa falha de memória, assim como muitos outros que não consigo lembrar, mas que importa se tu estás ai bem presente, como uma espécie de pilar que DEUS colocou na minha vida para eu não desmoronar enquanto o chão de desfazia debaixo dos meu pés.
Sem ti, eu não teria chagado aqui.
Sem essa amizade com que sempre me acarinhaste e protegeste quando eu andava a deriva pelas ondas no mar da desilusão, no deserto de afectos de quem me deveria amar, do abandono onde a distância foi conveniente para não cuidar.

Obrigada por estares presente por me acompanhares e permaneceres a meu lado como uma irmã genuína, nessa amizade pura que nos abraçou com  laços do Amor de DEUS, esse Amor que transcende todo o entendimento e uniu para sempre e pelo apoio que me dás quando eu quero voar e ir mais além de mim e parto com tranquilidade porque tu estás aí.
Sem tua ajuda eu não seria protagonista desta história de voluntariado na Guiné – Bissau, pela segunda vez, nem teria virado a página de livro que tanto te aflige quando eu releio as páginas que já estão para trás e me fazes sorrir com essa preocupação de filha que não quer ver a mãe chorar.
E quando eu escrevo para ti, tu vais escrevendo na minha história de vida uma história ainda mais linda, com palavras de coragem  de afectos e de  amizade ajudando-me a suportar os ventos e contratempos com coragem nesta minha aventura . 
São para ti todas as palavras de carinho e admiração que eu recebo na rede social do fb ou através do telemóvel ou outras redes,  porque sem a tua amizade eu não estava aqui.
Obrigada querida AMIGA  

SABIA QUE PORTUGAL VIVE NUMA DITADURA?

Encontrei este post no Facebook e axei que merecia estar aqui.....

Não acredita? Consulte os factos em baixo e acorde para a verdade que o rodeia. Ajude Portugal inteiro a acordar, partilhe, divulgue... comente, fale...
Todos os portugueses gritam a sete ventos que...
Votar é um direito
Votar é um dever
Fascismo nunca mais
Ditadura nunca mais
Democracia sempre!!!
E se os governos decidirem manter a ditadura, fingindo que é uma democracia, se eles o dizem o povo acredita!?
Não existe prisão mais eficaz, mais duradoura, e económica, que a falsa ilusão de liberdade.
Parecemos uns tontos com o cadafalso à frente, a caminhar para ele, a defender e a eleger os carrascos e a jurar a pés juntos, que não, jamais!!
A garantir que odiamos carrascos, que odiamos o cadafalso, que odiamos a ditadura ...
No entanto fazemos de conta que não vemos... que não sabemos... que não está à vista de todos na Constituição da República Portuguesa, a impotência do povo, a nulidade da vontade popular, a inércia da justiça.
A ditadura moderna não usa a violência física, é mais sofisticada, abusa da repressão, da exploração, da censura, da manipulação, e usa como ferramenta mais eficaz, os órgãos de informação, para manter o rebanho manso.

Todos deveriam saber, mas poucos sabem, que em 1974 conquistou-se a liberdade, mas em 1976, voltamos à ditadura, disfarçada.
Como e quando afastaram o povo do poder.
O Grande Golpe terá estado nos números 1 dos artigos 285 e 286, a seguir transcritos: que colocaram todo o poder na mão dos políticos e afastaram o povo, para sempre, desde 1976.
Artigo 285.º - 1. A iniciativa da revisão compete aos Deputados.
Artigo 286.º - 1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos Deputados em efectividade de funções.
Ou seja, o voto popular foi, afastado para sempre, das revisões e das decisões constitucionais, permitindo que 2/3 dos deputados a ajeitem, como entendam conveniente, na defesa dos interesses da classe, maquilhando-os de “interesse nacional”.

O referendo e a nulidade
Aprisionado por capatazes políticos ao serviço duma monarquia bancária.
Lançando mão a mecanismos - abjectos, porém eficazes - de manipulação de massas, com destaque para o controlo dos media, a estrutura de poder em Portugal assemelha-se, demasiado, a uma cleptocracia.
O povo ainda tentou uma abrir uma brecha, no circulo cerrado e ditatorial, para ter acesso ao poder, mas eles souberam, novamente fazer dessa brecha, uma falsa cedência.
Por forte pressão popular, já depois de 1976, "os deputados concederam" aos seus eleitores - a figura do referendo.
Porém, como o referendo poderia tornar-se perigoso para o seu teatro democrático, o nº3 deste artigo reza assim
Artigo 115º da Constituição.: - "3. "O referendo só pode ter por objecto questões de relevante interesse nacional que devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo Governo através da aprovação de convenção internacional ou de acto legislativo."

Repare no desplante destes cleptocratas: As questões de "relevante interesse nacional" são as decididas pelos deputados ou pelo governo...

Em democracia o povo tem poder...
Ou seja, eles decidem o que estará sujeito a referendo, ou não: pois é deles a autonomia de decidir o que tem interesse nacional... ou não. Pois claro!

Por isso, um referendo como o que recentemente limitou, na Suiça, os loucos vencimentos dos gestores financeiros, seria impossível por cá. Porque, evidentemente, não tem interesse nacional, para eles. Prejudicaria as negociatas...dos amigos.

Mas todo o artigo 115 merece uma leitura atenta. Como eu o vejo, é mais uma cereja em cima do bolo da ditadura, mascarada de democracia, onde os traidores a Abril nos obrigam a sobreviver...
Que fique claro que considero traidores a Abril, também todos os que gritando diariamente contra o sistema, dele se vão - confortavelmente - "alimentando".
Será que o sistema sobreviveria se toda, a auto-apelidada, esquerda abandonasse os cómodos lugares que ocupa no parlamento?
Adaptado Deste comentário de um leitor.
As petições e a nulidade
Para não me alongar mais, leia a parte final do artigo sobre as petições, neste link. Mais uma vez o governo é quem decide quais são dignas de ser atendidas.
Agora pergunto a si, cidadão, eleitor, português, contribuinte... se você vivesse numa democracia, onde a vontade e os direitos do povo são respeitados e escutados, você
admitiria a lista de crimes que enchem a coluna ao lado direito deste blog?
Você não exigiria referendar obras inúteis que nos custam milhões, como fazem na Suiça?
Você não exigiria ser consultado sobre como e onde são gastos os seus impostos?
Você não exigiria justiça severa e rápida, para quem roubou e traiu Portugal?
Então porque não experimenta, democraticamente, fazer uso do seu poder democrático?
Bora lá??? Tem medo de descobrir a verdade?
Descobrir que não temos poder? Que não temos democracia?
Bora lá divulgar e mostrar a todos os portugueses a realidade que nos oprime.
A ilusão da liberdade é aquela que mais nos prende.

Na Cidade de Bissau


Sentada a janela do toca toca, um  transporte partilhado por pessoas e animais, apinhado de gente seguia parando aqui e ali seguia até a cidade de Bissau. Um passeio diferente de tudo o que é possível imaginar, mas divertido ao mesmo tempo.
Dirigíamos-nos ao darling um super mercado com alguma variedade de produtos, importados, com os preços mais acessíveis e compatíveis com a qualidade.
Caminhando por entre carros, vendedeiras de frutas e verduras ao longo dos passeios ou do que resta deles, pus-me a imaginar como seria a Cidade num outro tempo, aquela avenida que vai da Praça do Império até ao Porto de Bissau e achei que deveria ter sido um lugar lindo, a ver pelo separador do meio e os passeios que ladeiam as duas fachas de rodagem onde me pus a adivinhar, nesse tempo as árvores cuidadas e os jardins cheios de flores no lugar onde agora são amontoados  de sacos plástico, latas e lixo
Senti a tristeza apertar-me o coração ao lembrar-me que um dia esta país foi português.
E fui caminhando reparando nas casas, mal cuidadas, abandonadas e algumas destruídas pela guerra, ao longo dessa avenida e fui sonhando no passado da cidade de Bissau e imaginei as pessoas passeando exibindo as suas melhor roupas ou apenas caminhando até ao porto para ver chagar algum navio.
Verdadeira  nostálgica até que ouvia a voz da Geane gritando,, ( desce da casinha da árvore Rosamaria), porque atravessei a rua e nem reparei que passei mesmo na frente dum carro..

Depois, enquanto a Geane tratava dum assunto seu no banco, eu e a Elisabete descemos a rua para avistar lá à frente o Porto de Bissau, com navios atracados, contentores amontoados e uma marginal com palmeiras com um muro largo onde me sentei somente para tirar uma fotografia sem respirar dizendo para mim mesma, se isto fosse limpo e tratado poderia ser um lugar paradisíaco e no entanto é uma lixeira que cheira mal e as ervas crescem envoltas em teias de arranhas. 
Depois de fazer as compras voltei e apeteceu-me escrever o que os meus olhos fotografaram, mas prendi-me na viagem de regresso dentro do toca toca e na cor negra dos passageiros e na minha pele branca. Como sorriam para mim aqueles olhos  lindos, que resplandeciam de felicidade naquele rostinho lindo ainda na idade da inocente.

Do sonho à realidade


Acordei no meio dum sonho que me desorientou no tempo e no espaço e levei algum tempo até identificar onde me encontrava. Levantei-me e olhei-me no espelho, mas não me vi, porque o meu olhar estava mais longe nalgum lugar do meu imaginário, que me faz lembrar de ti aqui em Guiné Bissau.
 Tu e eu chagamos a ser nós, um sonho que esteve ao nosso alcance e tinha-mos tudo para sermos felizes se não tivesses bebido o primeiro gole de álcool.
Acordei com as imagens do dia em que nos casamos e senti o meu corpo contrair-se pela dor que me causou essa lembrança, porque foi o dia mais lindo da minha vida, mesmo não tendo levado aquele ramos de rosas que eu tanto queria, mesmo não tendo vestido aquele vestido de noiva com o qual eu tanto sonhei, mesmo não tendo os convidados nem a família ao meu redor como qualquer noiva desejaria ter. Tu estavas lá, assumindo perante DEUS e as duas testemunhas que serias o companheiro, o amante e o amigo de todas as horas até ao fim das nossas vidas, juraste fidelidade, amor e respeito.
Que ilusão ao olhar para o meu dedo anelar e dizer-te tantas vezes que já és meu marido.
Mas traíste-me sem compaixão, sem pudor, sem vergonha. Entregaste-te ao prazer que te dava a garrafa enquanto esvaziavas o seu líquido. Traíste-me quando escondias as garrafas vazias e cheias dentro da chaminé da lareira, quando ficavas as horas da minha folga ao telefone a conversar com aquela mulher que eu nunca conheci.
Traíste-me quando debaixo do arco da camara da cidade onde estas agora, te vi aos beijos aquela mulher a quem escreves-te aquela carta que guardo para que não digas que fui eu que inventei. Traíste-me quando eu procurava o teu abraço e os teus braços se negavam a abraçar-me. Traíste-me quando nos teus sonhos chamavas pelo nome da maria com palavras de amor.
Traíste-me naquela noite de natal quando na varanda da casa do teu irmão falavas ao telefone usando palavras de amor, quando tudo e todos estavam ali ao teu lado.
Traíste-me no dia em que sais-te de casa, para fazer o programa de radio na cidade onde agora moras, e eu tive que ligar para ti e de lá me disseram que há muito tempo que tu não colaboravas no programa.
Traíste-me quando sabias que eras o meu primeiro e ultimo pensamento, que eras o meu sol e o meu oxigénio.
Procurei-te em todo o tempo e no limite das minhas forças pedi o divórcio, com a ilusão, de que o sentias por mim ainda era forte o suficiente para  te negares a assinares aquele papel e me pedias perdão por teres traído o meu amor. Mas assinaste  e ainda me ajudas-te a fazer a minha assinatura 
Durante muitos anos não conseguia lembrar-me desse dia, mas hoje aqui bem dentro do meu imaginário sei que sofri até não aguentar mais, que o mundo me engoliu, mastigou e vomitou. Que a vida deixou de fazer sentido e que morrer era a única solução e meu coração gritou dia e noite a mesma frase durante anos, eu não merecia.
Foi difícil encontrar o trilho para recomeçar a viver sem ti, sem os filhos que não pari mas que aprendi a amar, sem a família que eu adoptei como minha, mas que era a tua família.
Escrevi mensagens sem fim durante muitos anos para o teu telemóvel, chorei durante muito tempo e hoje voltei a chorar, porque acordei num sonho que me fez recordar o dia em que nós voltamos a ser eu e tu, separados pelas escolhas que fizeste naquele dia em que bebeste.
Aqui neste país onde o, nada é uma riqueza, despida de tudo e longe da minha zona de conforto, eu voo no tempo e nas histórias que me contavas e nas fotos que vi dos lugares onde estiveste para te encontrar no passado, porque tu não tens presente dentro desse meu imaginário quando sonho acordada.

Hoje

Abri a janela daquele que é neste momento o meu quarto e espreitei para longe, acompanhada pelos som de risos, gritos e choros, das crianças, que brincam aqui por debaixo da minha janela e pássaros a cantar, nas árvores parecendo uma majestosa sinfonia tocando só para mim,  neste lugar tão distante, tão longe do conforto da minha casa e das pessoas que amo.
Meus olhos transbordaram de lágrimas ao ouvir som dos cânticos vindos do refeitório do orfanato onde as crianças dão graças a DEUS cantando pela comida que tem no prato.
Um pássaro desperta-me a atenção ao mexer-se por entre a ramagem da árvore diante da minha janela, lindo coberto de penas azuis, que me olha curioso, mas que eu reconheci de imediato, como sendo aquele um dos vizinhos que chilreiam durante a noite e me acordam com os seus pius, parecendo que discutem pelo lugar no raminho que lhes serve de poleiro.
E mais pássaros esvoaçam bem perto da minha janela, de cores lindas, pequeninos e maiores, de varias cores, com penas avermelhadas e amarelo fogo lindos, saltando de ramo em ramo, diante dos meus olhos e cantam cada um com a sua melodia uma mais linda que a outra, fazendo-me explodir de emoções e sentir a saudade invadir o meu coração.
Saudades, que eu já tinha saudades de ter saudades.
Porque foi aqui que me encontrei em 2010, aqui renasci para a vida e esqueci de me lamentar, de ter pena de mim, e  como criança que perde o medo eu dei os primeiros passos em direcção ao futuro que DEUS preparou para mim quando eu desisti de viver.
Respirei fundo e senti esta alegria inexplicável junto da minha saudade, invadindo o meu coração de prazer por estar aqui neste lugar ajudando com o pouco  do meu saber. desejando que este contribua  para que as mulheres desta nação possam ser acarinhadas e bem tratadas na hora dos seus filhos nascerem.
Nada acontece por acaso na vida de ninguém.
Eu tinha que vir aqui  e  voltar depois e quem sabe se voltar ainda mais vezes ,mas para isso , primeiro chorei e sofri e para aprender a ser forte, "Aquilo que não nos mata, torna-nos mais fortes." -Friedrich Wilhelm Nietzsche

Farim



As palavras, baralham-se de tal forma no meu cérebro que quase não consigo dar-lhes forma e escrever o que tenho para dizer do lugar que visitei.
Aqui diante da folha virtual a olhar para o nada que resta desse tempo que envelheceu e esbateu até perder as cores das coisas que mal consigo recordar.
E talvez, por ouvir  falar tanto deste país e das histórias  que me contaste , tropecei nessas lembranças  e  procurei-te nesse tempo ao visitar esse lugar.
Encontrei, ruinas e escombros dum tempo que se, existiu, quase ninguém sabe contar.
Lembrei-me que, lugares vazios, também acontecem na vida em cujas ruínas, os estilhaços nos marcam o coração de cicatrizes tal como um país ferido pela guerra.
Farim, foi um nome que decorei e encontrei quase exactamente como fora no passado, mas com outras gentes.
De repente lembrei-me que vi fotos tuas, que tiraste quando estiveste aqui e procurei-te em cada recanto e pronto estavas ali diante da mira da minha camara enquanto eu semicerrava os olhos.
Continuamos?- Estremeci ao ouvir aquela voz e fiz rir uns, dentes muitos brancos no rosto negro do homem que me acompanhava pelo lugar.
Depois, sentada no banco traseiro da carrinha que seguiu para Bula, consegui a custo segurar as lagrimas que teimosas pretendiam desrespeitar o meu silêncio e denunciar o meu segredo.
Captei, o brilho dos teus olhos, o teu sorriso e ouvi a tua voz cantando ao som dos acordes saídos dos teus dedos abraçado a tua viola naquele instantâneo fotográfico do meu imaginário
Foi mágico esse momento rebuscado ao tempo em, que se deixa de sonhar e as amarguras qual, erva daninha se emaranharam às ruínas da nossa história abandonada.
Lembrei de ti nesse encontro com o tempo e senti saudade do amor que morreu asfixiado nas garrafas de uísque tornando-te incapaz de fazeres alguém feliz.
Eu não merecia!!...
Gritei em silêncio durante anos e foi o gemido do meu coração, naquele lugar chamado  Farim.

Voltei a Guiné Bissau



Desta vez a viagem foi mais tranquila,o viajante que se sentara ao meu lado, não se calou em toda a viagem.
E quando o avião aterrou no aeroporto de Bissalanca e se abriram as portas o ar impregnou-se de imediato dos cheiros que tornaram todos os odores ainda mais intensos e até eu já cheirava a africa.Desci as escadas com o coração  a bater tão rápido que mal conseguia respirar pela emoção de voltar à Guiné Bissau. 

Ao passar pelo control , mandaram-me abrir a mala de viagem, para fexar de seguida e lá saí para fora do aeroporto onde o missionário deveria estar a minha espera, mas ainda não tinha chegado  e permaneci ali durante algum tempo olhando meu redor tentando encontrar esse rosto  familiar que me ia buscar. Ao contrario dos outros dias o avião chegou mais cedo que o habitual
Táxi? …Precisa táxi? Gritavam-me do outro lado da rua, numa mistura de crioulo e português, ao qual eu ia abanando a cabeça dizendo que não precisava.
O vizinho do assento ao lado no avião, depois de ter colocado as malas no carro que o viera buscar, ficara a fazer companhia e falou…falou de novo tanto, mas eu já não o ouvia, pois toda a minha atenção estava virada para cada carro que chegava vindo do meio da escuridão que fazia para la da entrada para o aeroporto.
Mas de repente alguém tocou no meu ombro dizendo o meu nome e, que alivio, era a voz do missionário que me vinha buscar.
A partir daí tudo foi mais facil e quando avistei o grande portão vermelho da Casa Emanuel, não consegui segurar aquela lágrima que espreitava nos meus olhos desde que saí de Portugal, caiu finalmente  livre até molhar o meu rosto e eu soluçar.
Não encontrei palavras para descrever a mistura de emoções que  ferveram no peito para dizer o que senti quando fexei atrás de mim a porta do quarto que vai ser o meu espaço durante os 6 meses que vou ficar aqui.
Chorei  e ri até adormecer.