Um dia na Cidade de Liaboa

O café estava escuro, no seu interior, procurei um lugar cómodo para me sentar e comer a pequena refeição da manhã. Junto à janela havia uma mesa vazia, um lugar agradável, de onde se podia ver a rua e observar os transeuntes enquanto comia,e sentei-me.
Abri o jornal que me ofereceram à saída duma passagem subterrânea que atravessam as ruas de Lisboa e comecei a virar as paginas, passando por alto algumas notícias, mas aquela prendeu-me,não pela importância do assunto, mas porque exibia a foto de José Sócrates.
Olhei durante algum tempo essa expressão estudada, no rosto aparentemente simpático e sedutor, e deixei os pensamentos vaguearem através desse perfil desenhado no tempo onde a mentira e a verdade mudam de rumo conforme sopra o vento e lhe é mais conveniente. Da mesa do lado ouvi queixumes e lamentos de gente trabalhou a vida inteira, gente que sonhou desfrutar no final da sua história.
Não sei descrever o que senti, mas acho que foi a raiva que me fez contrair os músculos do rosto enquanto a conversa na mesa do lado crescia com insultos (mentiroso, gatuno, corrupto e ladrão) com estes adjectivos a conversa, estendia-se a outras mesas e aumentava de tom. Levantei os olhos e senti-me incomodada pelos olhares fixados na foto do jornal que eu segurava nas mãos.
Levantei-me, saí do café,com uma vontade louca de gritar aquela gente que eu pensava da mesma maneira e que o socialista em que eu acredito, não se identifica com socialismo do Sr. Sócrates.
Respirei fundo e fui caminhando, parando diante de algumas montras, cheias de etiquetas coloridas, de todos os tamanhos a informar descontos e outras com liquidação total dos artigos, e mais uma vez ao meu lado duas mulheres falavam uma com a outra sobre as dificuldades que sentem desde que o povo colocou o governo nas mãos duma pessoa que se esqueceu de ser humano ainda no tempo em que ainda era menino.
Fazerem-nos sentir a mais, que já não pertencemos a lado nenhum, que nos tornamos inadequados, inconvenientes, descartáveis nesta sociedade tão conveniente aos meandros da corrupção, da mentira e lucro fácil e rápido.
Senti pena do homem da foto do jornal que ficara em cima da mesa do café, desse homem que se assume o melhor, o maior, o dono absoluto da verdade, que não falha e para quem as queixas as dificuldades e a fome do povo é mera provocação.
Nesse momento quase fui atropelada por um bando de pombos que num voo rasante poisaram junto duma mulher sentada no banco do jardim, que espalhava migalhas e restos de comida, fazendo-me sorrir diante daquele quadro tão lindo.

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